Transcritor musical dos Grupos, João Victor Bota, tem músicas interpretadas em Nova Iorque, Espanha, Noruega e vários países da América Latina
Uma canção composta para brilhar no piano ganha nova versão, sem, contudo, perder a essência: criar arranjos e transcrever músicas para as mais diferentes formações musicais como banda sinfônica, banda marcial e até coral, é o trabalho de João Victor Bota. Ele é o transcritor musical dos Grupos Artísticos de Cubatão, no cargo há três anos.
Aos 29 anos de idade, João Victor é graduado e mestre em Música pela Universidade de Campinas (Unicamp), professor da Escola de Música do Estado de São Paulo (Emesp) e um compositor da melhor qualidade. Além de elaborar lindas músicas para os Corpos Estáveis de Cubatão (Banda Sinfônica, Banda Marcial, Coral Zanzalá, Programa BEC), o artista tem sido reconhecido internacionalmente por seus trabalhos.
João Victor compôs a música “Zênite”, uma homenagem ao pianista Almeida Prado – que teve estreita ligação com a Cultura de Cubatão. A peça foi estreada em outubro, pelo violista Peter Pas, em Nova Iorque (EUA), durante o Festival Sounds of a new century (Sons do novo século), que reúne instrumentistas e compositores de todo o mundo. A composição foi elaborada a pedido da Camerata Aberta, grupo brasileiro de Música Contemporânea, que se apresentou no Festival.
Ainda em 2011, Bota teve a canção “Cordas parassimpáticas” tocada pela Orquestra Petrobrás Sinfônica, no Rio de Janeiro. De acordo com o compositor, a obra é “uma espécie de “Concerto de Brandeburgo bachiano com as notas erradas, por assim dizer. Algo como uma paródia do quadro de Monalisa, na qual a modelo retratada teria um grande bigode. Os compositores que de certa forma surgem, além de Bach, são Schoenberg, Messiaen e Bartók, todos eles dialogando entre si”.
Ano passado, “Abertura LP”, também de autoria de João Victor, foi tema de concerto da Banda Sinfônica de Córdoba, na Argentina, com a regência da maestrina Rosa Briceño. Entre os anos de 2008 e 2009, a música “Catira Paulista”, fez parte do repertório de bandas sinfônicas e orquestras da Espanha, Noruega, Colômbia, Argentina e Venezuela.
Transcrições musicais são até “exportadas” – várias obras de transcrição realizadas por Bota têm feito parte dos programas musicais de vários grupos pelo mundo. Um exemplo disso é o arranjo da “Abertura em ré”, do Padre Nunes Garcia, executada em novembro passado pela Sinfônica de Bilbao, na Espanha, sob regência do maestro Dario Sotelo. Esta equipe está entre as 10 bandas sinfônicas mais importantes do mundo. Ainda este ano, aconteceu a publicação do arranjo de “Valsa do Primeiro Baile”, de Sidney Barreto, pela editora Kalmus, dos Estados Unidos.
O trabalho minucioso do João Victor arrancou elogios até de Gilberto Mendes, sumidade no campo da Música Contemporânea Brasileira. Mendes teve sua obra “Ponteio” transcrita por Bota e apresentada ano passado pela Sinfônica de Cubatão. A galeria de arranjos inclui, ainda, transcrições de músicas de Villa-Lobos, Padre Nunes Garcia e até da banda de rock Queen (para o projeto “Queen Sinfônico”, que virou Dvd). “É um trabalho praticamente artesanal. Crio arranjos sem perder o conteúdo e o diferencial da música original. Tenho que manter viva a identidade do compositor”, afirma.
Atualmente, João Victor tem trabalhado na transcrição de “Partita”, de Franz Krommer (1759-1831), elaborada para a Banda Marcial de Cubatão. O compositor é um contemporâneo de Beethoven, infelizmente, pouco conhecido. Krommer escreveu várias músicas instrumentais, bastante virtuosísticas, que valorizam a técnica dos instrumentistas de sopros.
Buscando a excelência – João Victor esteve entre os meses de agosto e setembro, participando de um curso de composição musical no Conservatório de Amsterdã, Holanda, promovido pelo Atlas Ensemble. Bota foi um dos brasileiros selecionados para as aulas, que sempre acontecem uma vez por ano. Aprendeu sobre a cultura musical de diversos países, com professores renomados. Em 2011, o enfoque foi a música e os instrumentos tradicionais da Ásia e do Oriente Médio.
A programação contou com palestras e concertos onde foram apresentadas as possibilidades de utilização desses instrumentos, desconhecidos para a maioria. Houve, por exemplo, a utilização do sheng, instrumento de sopro da música tradicional chinesa e a clarineta, componente habitual de orquestras e bandas sinfônicas.
“O curso foi uma excelente oportunidade. A partir de agora, poderei testar ideias musicais escritas para conjuntos instrumentais que reúnem músicos virtuoses, de diversos países. Isso é muito enriquecedor porque um grupo musical integrado por instrumentistas de estilos tão diferentes entre si estimula a criação de sonoridades inusitadas”, diz João Victor, suspirando acordes.
Texto: Morgana Monteiro
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