Publicação faz análise da industrialização e Meio Ambiente da cidade. Dos bananais às grandes indústrias, nada foi esquecido
Um relato vivo da história e da evolução econômica de Cubatão foi o tema escolhido pelo economista e administrador Joaquim Miguel Couto para sua tese de doutorado. A pesquisa se transformou em livro intitulado “Industrialização, Meio Ambiente e Pobreza” – o caso do Município de Cubatão”. O professor esteve aqui na Cidade para divulgar a obra e entregou 10 exemplares da publicação à Biblioteca Municipal, que já estão à disposição dos leitores.
Muitos, principalmente os cubatenses, podem até achar curioso os sobrenomes do economista. Na verdade, ele recebeu o mesmo nome do bisavô, Joaquim Miguel Couto, antigo morador, hoje lembrado por batizar uma das mais importantes avenidas do Município. O bisneto Joaquim Miguel Couto nasceu, cresceu e morou em Cubatão até os 18 anos idade. Viveu de perto a época em que a Cidade sofria por conta da poluição e acompanhou, mesmo que de longe, o crescimento e a recuperação ambiental de sua terra natal. Na década de 80 se formou em Administração e Economia, na UniSantos.
Depois, realizou mestrado na Universidade Federal da Bahia e no fim anos 90 decidiu defender a tese de doutorado pela Unicamp, Universidade de Campinas, onde abraçou Cubatão como tema para isso. “Eu procuro contar a história econômica da Cidade desde os tempos dos bananais, passando pela chegada das indústrias, a poluição. São pontos positivos e negativos desse progresso”, afirma Miguel Couto.
Esse relato tem início nos primórdios da cidade, com uma análise da economia do Município de 1532 a 1950. Os dados sobre essa economia se confundem com a história geral da Cidade, situando Cubatão no tempo e no espaço. De acordo com o autor, as características geográficas e climáticas influenciaram e muito os diferentes tipos de atividades mercantis desenvolvidas na cidade. A natureza, generosa com Cubatão, é citada várias vezes por Miguel Couto, que chega até mesmo a incluir uma frase do poeta Afonso Schmidt: “Cubatão é deslumbramento e mais deslumbramento”.
A história segue pela instalação do Porto Geral até as atividades agrícolas, principalmente o que o economista chama de “mar de bananeiras, uma imensidão verde”. De acordo com Joaquim, a produção agrícola cubatense enchia os vagões da São Paulo Railway, tanto na estação de Piaçaguera quanto na da Cidade. Nesta época, início do século XX, não existia desemprego; todo trabalhador que chegava à Cidade encontrava alguma ocupação nos bananais.
Até a década de 1950, a natureza era fonte de renda para os cubatenses e fornecia a maior parte da dieta dos moradores: entre as frutas, sobravam pés de mexerica, laranja, goiaba, pitanga, abricós, araçás, entre muitos outros, além de plantações de verduras e legumes, criações de porcos e galinhas, a pesca. Outra atividade que também se destacou nesta época foi o curtimento do couro, realizado em inúmeros curtumes espalhados por vários bairros.
As coisas começam a mudar a partir de 1910. A vida econômica, típica da “roça”, não seria mais a única. Instalam-se três grandes fábricas no município, as pioneiras. São elas: Cia. Curtidora Marx (1912), que desenvolvia a preparação de couro e peles de animais; a Cia. de Anilinas que produzia corantes, tanino e adubos – a empresa funcionou onde hoje está o Parque Anilinas; e a Cia. Santista de Papel. A construção da Usina Henry Borden também não foi esquecida.
A partir daí, o economista faz uma viagem pelos anos dourados de 1950, com a chegada da Refinaria Presidente Bernardes, construção da maior siderúrgica do país, a então Cosipa (hoje Usiminas) e a instalação de tantas outras dezenas de idústrias que fabricavam de quase tudo entre as décadas de 60 e 70, entregando a Cubatão título de maior pólo petroquímico da América Latina. As vias Anchieta e Imigrantes também fazem parte desse relato.
Todo esse crescimento industrial, porém, teve um preço muito alto, de acordo com o autor: a poluição do ar, do solo e dos rios; a cidade classificada como uma das mais poluídas do mundo, ganhando a capa de revistas em todo planeta com sua chuva ácida e as clareiras abertas na Serra do Mar. Para o economista, esse modelo é o mesmo que foi implantado no Brasil, a poluição e pobreza importadas. “Essa grande divulgação da riqueza e da pobreza ambiental da Cidade fez com que o governo estadual se movimentasse, lançando em 1984 um programa rigoroso de controle da poluição”, comenta.
Para realizar o doutorado, Joaquim Miguel Couto entrevistou cerca de 20 pessoas, antigos moradores de Cubatão e visitou todas as fábricas instaladas na cidade, pesquisa que durou dois anos. A história termina em 2001, com o relato de uma Cubatão que passou por muitas transformações. O autor mostra que, mesmo com todas as mudanças, o município não passou pelo processo de ‘desindustrialização’ como em outros locais, pelo contrário. De acordo com ele, o pólo cubatense entrou no século XXI batendo recordes de produção, chegando próximo ao desejável crescimento sustentável.
A tese de doutorado se transformou em livro e será lançado ainda este mês, pela Editora da Universidade Estadual de Maringá (PR), da qual Joaquim Miguel Couto é professor. Apesar de ter sido publicado somente em 2012, esse trabalho científico tem sido bastante importante e fonte de pesquisa para muitos universitários e escritores, de acordo com Welington Borges, secretário de Cultura.
“Essa tese é um marco na historiografia de Cubatão. Temos esse registro desde a época em que foi aprovado, no início dos anos 2000. Está registrado no Arquivo Histórico Municipal e chegou a ser utilizado até mesmo para a construção da Agenda 21. Agora, todo esse conhecimento estará disponível para todos”, afirmou o secretário.
Texto: Morgana Monteiro
Foto: Henrique Ramos
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