O espetáculo levou muita gente à Biblioteca Municipal
As fotos de brasileiros desaparecidos políticos nas décadas de 60 e 70 estampadas na parede deram início à instalação multimídia “Relicário de Cicatrizes”, apresentada neste domingo (12/9) na Biblioteca Municipal de Cubatão. O espetáculo retrata os anos de chumbo da ditadura militar no país de maneira bastante intensa e abrangente. Muito mais do que um relato do período sombrio do AI-5 até o início dos anos de 1980, a ideia da apresentação é manter viva na memória das pessoas essa época difícil, não em tom de saudosismo, mas de alerta para que não aconteça novamente.
A instalação multimídia levou o público a uma verdadeira viagem por uma época em que a palavra livre do cidadão e do artista era “artigo de luxo”. Misturando de tudo um pouco (teatro, dança, música vídeo), o espetáculo uniu relatos de pessoas que tiveram seus parentes desaparecidos intercalando com a produção artística ricamente produzida nesta época, como a canção “Conversando no bar”, que originalmente se chamada “Saudades dos aviões da Pan Air”, mudança provocada por Elis Regina (que gravou a música) para conter a fúria da censura política.
A peça se traduz nas experiências vividas pela sociedade civil na época da ditadura.
A instalação teve a direção de Ivan da Conceição, também idealizador, e contou com os atores Leonardo Só, Roberto Facoro, Rosa Ferinac, Natan de Alencar, Wagner Lourenço (Eskilo), Eliane Ribeiro, Bianca Lira, Beatriz França, Elton das Neves e, ainda, Jackson Carvalho e Dan Lisboa, que realizaram um show musical com canções das décadas de 60 a 80.
Utilizando as dependências da própria Biblioteca, os cenários se modificavam. A platéia acompanhou o elenco caminhando de um lado para outro. Com iluminação especial de Juliana Sousa, montada exclusivamente para o espetáculo, a apresentação reuniu todas as cicatrizes que nos deram a liberdade política: um relato, uma carta, um testamento que permite a sobrevivência de um episódio tão importante. Relicário nada mais é do um lugar onde se guardam relíquias. Quer algo mais precioso do que as nossas próprias memórias?
Texto e fotos: Morgana Monteiro
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