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sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

POESIA DE MARCELO ARIEL É PUBLICADA EM ESPANHOL


Editora artesanal de Tijuana, México, inclui o poeta cubatense em livro com o tema do fim do mundo

A editora artesanal Kodama Cartonera, de Tijuana, México, incluiu o poeta Marcelo Ariel, que vive em Cubatão, na coletânea "Poesía para el fin del mundo" (leia aqui), publicada em dezembro, com seleção de autores feita por Estela Mendoza. Ariel enviou para a coletânea o poema "Novas Revelações do Príncipe do Fogo", que abre o livro, com tradução para o espanhol feita por Alessandro Atanes, jornalista e servidor público da Prefeitura de Cubatão.

Esta não é a primeira vez que a poesia de Ariel foi publicado em uma língua estrangeira. Em 2011, a revista francesa Action Poétique publicou uma edição especial com uma seleção de 10 nomes da poesia brasileira contemporânea, entre os quais Ricardo Aleixo, Márcio-André, Fabrício Carpinejar, Marília Garcia, Simone Brantes, Paula Glenadel, Karinna Gulias, Nora Fortunato, Eduardo Eterzi e Marcelo Ariel.

Os primeiros versos de Ariel levados para o espanhol foram traduzidos pelo poeta peruano Óscar Limache, que, em novembro de 2010, concluiu uma conferência na Biblioteca Municipal de Cubatão com a tradução de um poema do autor. Antes, em 2009, a editora alemã de livros artesanais PapperLapPapp publicou uma coletânea com uma série de poetas latino-americanos publicados em seus países também por editoras artesanais, como o próprio Ariel. A seleção, com o nome "Mehr als Bücher/Más que libros" (Mais que livros), incluiu então os poemas "No deserto com Paul Bowles" e a parte final de "Me enterrem com a minha AR 15 - Scherzo-rajada", poema que dá nome a seu livro de estreia.

A coletânea - "Poesía para el fin del mundo",   Formado por duas seções, "Caos na ordem" e "Ordem do Caos", o livro reúne poetas do México ou que vivem naquele país, a maior parte, mas há também representantes do Peru, El Salvador, Equador e Chile, além de Ariel representando o Brasil. Para ele, o tema do fim do mundo foi um pretexto da editora mexicana para reunir poetas em torno de um dos temas universais da poesia: a morte. "O tema central é a morte e o fim do mundo é uma evocação da morte de forma coletiva. Um genocídio é a materialização do fim do mundo, Canudos é o fim do mundo, Vila Socó foi o fim do mundo, os assassinatos promovidos pelas milícioas são o fim do mundo em escala menor. E a morte individual é o fim do mundo dentro da esfera pessoal. E o amor é o começo do mundo. Só há dois temas, a morte e amor".

Ariel comenta que os poemas reunidos no livro revelam uma visão onde toda a imponência e importância da vida humana é relativizada, "o que lembra muito a resposta a Jó e o episódio da 'Odisseia', de Homero, em que Ulysses questiona Poseidon sobre o motivo do sofrimento humano. Poseidon e Javé respondem praticamente a mesma coisa, que o homem é só um detalhe da criação, da mesma importância de um grão de pólen". 

A editora - Kodama Cartonera é uma das mais de 100 editoras artesanais espalhadas pela América Latina que fazem livros com capas feitas com papelão (cartón em espanhol, daí o nome), movimento que teve início em Buenos Aires com a crise econômica de 2002. A primeira editora "cartonera" brasileira foi a Dulcinéia Catadora, de São Paulo. Na Baixada Santista, já são três: a Sereia Ca(n)tadora, a Edições Caiçaras e a Estação Catadora.

"Três coisas deveriam se espalhar pelas cidades do Brasil e pelo mundo como modelos de produção cultural: o cartonerismo, o SESC (sria muito interessanto um SESC Parque Anilinas, por exemplo) e a Universidade Popular de Caen (França), criada por Michel Onfray". Ariel se refere à forma de ensino criada pelo filósofo francês que não exige qualquer qualificação acadêmica e é aberta a todos, cujo único compromisso é o comprometimento em fornecer conhecimento de alto nível. "Achei surpreendente estar na coletânea em Tijuana, vai ser mais surpreendente ser valorizado aqui, onde a poesia dialoga com a vida da cidade, mas o inverso não acontece". 

O escritor Marcelo Ariel
O autor - Marcelo Ariel já publicou seis livros por cinco editoras cartoneras e uma artesanal, além de obras por editoras convencionais. É do conselho editorial da Edições Caiçaras e um dos criadores da Rubra Cartonera, de Londrina. A Biblioteca Municipal de Cubatão conta com um exemplar de seu livro "Tratado dos anjos afogados", doado pelo autor. Sua obra é analisada e está nos acervos de universidades na Suécia, Bélgica, Portugal, Moçambique, Alemanha e Estados Unidos, além do Brasil. Seus textos podem ser lidos no blog Teatro Fantasma.

Abaixo, o trecho inicial do poema publicado em espanhol, um exemplo da capacidade de Ariel para compor imagens que mostram a a catástrofe, como ocorre em seus poemas sobre a tragédia de Vila Socó que fazem parte do "Tratado dos anjos afogados":

Novas Revelações do Príncipe do Fogo

Eu sou a árvore,
feche os olhos,
primeiro você vê as armas
do Sol: As manhãs
e eis a beleza terrível se movendo
na pele do antisonho
e na do mar também,
eis as nuvens de sangue,
cavalos selvagens da luz
cavalgados pelo vento,
este corpo do espírito geral,
eis o céu
que jamais será
como os campos
porque é incorruptível,
apesar do rugido dos aviões,
evocando a raiva dos pássaros,
depois você verá o espetáculo
das montanhas de ossadas,
quase tocando o céu,
isso jamais terá seu poder nomeado,
será como o Sol.
Um Poder que estava em nós,
mas não pertencia a ninguém.
Agora, você verá a escuridão dourada,
não é um grito do céu
como o indecifrável canto das mônadas
caindo em ondas
imperceptíveis, humilhando
todos os místicos
que irão correr em sonho por cima do mar
até chegar na África Geral,
eles e nos, anestesiados
pela conversa silenciosa das ossadas,
que sussurram na hora do despertar:
"Não basta você flutuar por aí,
na margem etérea do sonho, meu Irmão!"
e depois começam a cantar.
E eis que Ele retorna das Áfricas Reunidas,
a beleza das chacinas
é como a das explosões solares,
Ele pensa
A expansão solar rindo por último
e depois a gargalhada dos mangues e das florestas
e a dos países oceânicos também,
diz a Estrela-do-Mar. 

texto: Alessandro Atanes

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