Apresentação levou grande público ao Sesc de Santos no último domingo (15).
A Sinfônica de Cubatão apresentou repertório emocionante no último fim de semana. Uma dobradinha musical levou os mais de 80 artistas da Banda ao Bloco Cultural no sábado (14), na apresentação intitulada “Concerto da Pátria” e, um dia depois, o mesmo programa foi destaque no projeto “Tocando Santos”, no Teatro do Sesc/Santos.
Tanto em Cubatão como em Santos, o repertório e a presença do solista Milton Vito foram motivos de encanto para a plateia. O maestro titular da Sinfônica, Marcos Sadao Shirakawa, dividiu a regência com Roberto Farias, coordenador dos Grupos Artísticos de Cubatão. “O Roberto, além de ser o criador da Banda Sinfônica (fundou a então Banda Musical em 1970), é um dos homenageados deste ano no ‘Tocando Santos’. E também foi um dos mestres que contribuíram para a carreira do Milton Vito. A homenagem é mais do que justa”, afirmou Sadao.
As peças escolhidas para estes espetáculos são de grande energia. A começar por “Os Mestres cantores de Nuremberg”, de Richard Wagner, homenagem aos 150 anos de nascimento do compositor alemão. Já “Danzas del Ballet Estancias”, de Alberto Ginastera, são quatro peças com movimentos brilhantes que contam a vida dos camponeses argentinos: Os trabalhadores agrícolas, a Dança do trigo, Os peões da fazenda e Dança final – Malambo, esta última, com grande vigor e quase a presença física da dança em si, uma vez que retrata um desafio entre bailarinos.
Momento especial houve durante a execução de “For Natalie”, de James Barnes. Criada pelo compositor para homenagear uma de suas filhas que morreu precocemente, a música nos leva a imaginar o cenário que o artista criou em partituras: o maestro Sadao explicou, minutos antes de assumir a batuta, que Barnes imaginou um mundo onde Natalie estivesse ainda viva. Por ser uma peça original para banda sinfônica, constrastou com o restante do programa. Essas três músicas contaram com a regência de Marcos Sadao.
Cubatão, uma fábrica de sonhos – Dois grandes maestros estão sendo celebrados este ano pelo “Tocando Santos”: Roberto Farias e Ivan Solano. Visivelmente emocionado, Farias tem vários motivos para comemorar essa doce homenagem: sua progressiva recuperação, já que enfrenta problemas de saúde, e o reconhecimento ao profissional que é, há mais de 40 anos divulgando por todo o mundo as bandas sinfônicas e o nome de Cubatão.
Farias regeu uma de suas composições, “Fantasia Exótica”, de 1995. Com grande apelo filosófico, a peça se baseia em um pensamento sobre a busca do homem por sua autossuperação. “É a tentativa de descobrir os mistérios que nos cercam, além daquilo que podemos ver. Combina elementos melódicos e rítmicos bem contrastantes, num misto de certezas, incertezas e obstinação, até chegar à razão”, disse Roberto. Composta para o Festival de Música Nova, a versão que perdura é uma revisão de 2006, estreada pela Sinfônica de Buenos Aires, dedicada ao compositor argentino Vicente Moncho.
E a Sinfônica contou, desta vez, com a presença de um grande músico como solista em outra peça: o saxofonista Milton Vito. Momentos antes do músico subir ao palco, o maestro Roberto fez questão de contar um pouco da história desse artista que começou seus estudos musicais em Cubatão: “Imagine um garoto que desejava muito ser músico mas era ajudante de pedreiro. E que decide, aos 18 anos de idade, se tornar um artista, trocando o digno trabalho de assentar azulejos por um saxofone, para ser artífice da arte. Este é Milton Vito, atualmente, um dos mais respeitados profissionais da área. Vito soube, como poucos, reduzir esse tempo como músico, professor e pessoa de caráter”, disse Farias.
Diante de tal homenagem, coube a Milton Vito responder com sua Arte. E foi o que fez, interpretando lindamente a “Fantasia para Saxofone”, de Heitor Villa-Lobos, uma das obras mais importantes do repertório do saxofone dentro da literatura musical universal. Dificilmente, alguém que ouça a Fantasia para Saxofone pela primeira vez não a identifique como sendo de Villa-Lobos. Parece uma síntese da obra do compositor, com elementos muito próximos aos que figuram na série das Bachianas Brasileiras e nos Choros. Evoca o lirismo e competência do intérprete, não poupando igual esforço dos músicos da banda. A peça teve transcrição do compositor João Victor Bota.
Como solista, destaque da Banda Sinfônica de Cubatão, Vito retorna ao grupo de sua cidade natal, desta vez com uma bagagem profissional de mais de 25 anos de carreira e o reconhecimento mais do que merecido. É integrante da Banda Sinfônica do Estado de São Paulo e titular da cadeira de saxofone erudito da Emesp - Escola de Música do Estado de São Paulo. Analisando o exemplo de Milton, o maestro Roberto afirma que “Cubatão é mesmo uma fábrica de sonhos”. De um passado – agora distante – de um jovem que poderia seguir a profissão do pai ao construir casas, decide edificar a Arte em sua vida na daqueles que o escutam tocar.
Fotos: Morgana Monteiro